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Fique por dentro das iniciativas, atividades e reflexões do Projeto Integrar

Projeto Integrar – 11 anos de história 

O Integrar completou onze anos no último primeiro de agosto e durante essa história fomos movimentando espaços públicos, construindo um projeto de educação emancipadora. Nas escolas que abriram portas para nossas aulas do pré-universitário popular, procuramos trazer o diálogo por meio da organização de atividades formativas que tratassem dos conteúdos abordados nas provas dos vestibulares e ENEM. 

Nosso primeiro espaço foi a escola Henrique Stodieck, passamos pelo CEC, Lauro Müller, Instituto Estadual de Educação e temos na escola Jurema Cavalazzi a nossa parceria mais duradoura. Lá no Jurema, como sempre falamos, temos a alegria de COMPARTILHAR este lugar com uma grande inspiração no que concerne ao significado de uma educação transformadora: a Educação Escolar Quilombola. 

A Educação Escolar Quilombola tem como finalidade a luta pelo território, e está localizada aqui em Florianópolis ao pé do morro da Queimada, vizinha do Morro do Mocotó e José Mendes. Essa educação tem atendido as famílias de remanescentes quilombolas da Toca em Paulo Lopes, bem como alguns estudantes do Mocotó/ Queimada.

Temos uma seleção para escolher os estudantes atendidos. Em nossa construção nos esforçamos para incluir trabalhadoras e trabalhadores estudantes que também são chefes de família e integrantes daquilo que denominamos de minorias socialmente representadas nos espaços simbólicos de poder, como a universidade. Historicamente, procuramos atender essas minorias – que são a maioria da população brasileira – formada, em parte, pelas populações negras e LGBTQIAPN+. Sabemos que temos muito que caminhar: temos muita dificuldade em produzir um lugar acolhedor para as comunidades de pessoas com deficiências, povos indígenas e as demais pluralidades que não conseguimos nem situar em nossas avaliações.

Tudo é processo e estamos caminhando. Quando a nossa comunidade é aprovada na barreira excludente das avaliações que dão acesso à universidade pública, lá encontram um terreno totalmente desconhecido. E por isso a caminhada do Integrar compreendeu que era necessário construir também a permanência desses corpos e dessas subjetividades que lá estão ocupando as vagas da universidade pública brasileira. Foi assim que nasceu a GESTUS, a Gestão Estudantil Universitária Integrar. Aqui na GESTUS entendemos a responsabilidade de construção comunitária para permanecer no espaço universitário. Venha conhecer a GESTUS também!

🙂

Não adianta construir um pré-universitário popular, incentivar e auxiliar o acesso das minorias à universidade, permanecer na construção comunitária e depois achar que o trabalho acabou. Temos a preocupação de uma transformação mais ampla na sociedade e por isso é necessário o retorno dos frutos para essas comunidades nas quais estamos na LUTA. Assim, um dos nossos fundamentos é de que esse processo formativo consiga transformar os educandos que frequentam nossas atividades, fazendo com que eles multipliquem o trabalho de educação popular nas veredas pelas quais passarão. 

Deste processo formativo, que se encontra no horizonte da caminhada, se desdobra outro fundamento que é independente: a formação de educadores populares. Não é possível a continuidade do trabalho sem a base humana e é por isso que desenvolvemos atividades formativas direcionadas ao nosso corpo de educadores populares. Estamos sempre buscando o desenvolvimento destes quatro pilares: O Pré-Universitário Popular, a GESTUS, o retorno para as comunidades atendidas e a formação de educadores populares.

Nesses 11 anos gostaríamos de agradecer a todas as pessoas e entidades que contribuíram e continuam nos auxiliando nessa caminhada. Ainda estamos aqui e continuamos caminhando!

Não vivemos tempos fáceis, mas a noite é mais densa pouco antes do amanhecer.

Publicado em 25/08/2022


Pré-vestibular 2022: Aula inaugural marca o início dos cursos de preparação para vestibulares. 

Foi realizada no dia 28 de março, na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (ALESC), a aula inaugural do Pré-Vestibular Integrar 2022. O evento contou com a participação de professores, colaboradores, ex-alunos e alunos, além da representante do Instituto Pe. Vilson Groh – IVG, parceiro do Projeto na realização das aulas em um dos núcleos de atuação para o ano de 2022. O IVG é uma organização sem fins lucrativos que trabalha articuladamente em rede com outras seis organizações e em parceria com duas instituições de ensino – formando a Rede IVG -, além de oferecer programas formativos e de apoio a crianças, adolescentes e jovens, desenvolvendo ações educativas e assistenciais na Grande Florianópolis e Guiné-Bissau, na África.

O evento contou com a fala da atual coordenadora do Projeto, Cristine Saibert, que fez a abertura da Aula Inaugural e deu as boas-vindas aos estudantes de 2022. A coordenadora atual da GESTUS, Mara Rosane Goulart, deu seu relato pessoal como ex-aluna do Integrar e fez uma fala motivando os e as novas estudantes a não desistirem dos seus sonhos. Já a representante do IVG, Tainara Lemos, falou um pouco sobre o IVG e sobre a parceria estabelecida com o Integrar para o ano de 2022. Após, ex-alunas do Pré-Vestibular Integrar e Rede IVG deram seus testemunhos sobre as aulas do Pré-Vestibular e sobre o processo de ingresso e permanência na Universidade.

Após as falas, as e os estudantes foram encaminhados para a parte externa da ALESC, onde fora organizado um pequeno coquetel de boas-vindas. Após o momento de relaxamento e confraternização, as estudantes retornaram ao auditório e deu-se então o momento de apresentação da equipe de educadores que irá atuar em 2022. Por fim, os estudantes foram informados sobre as regras gerais de convívio, os dias e horários das aulas e, também, obtiveram orientações quanto à segurança pessoal e coletiva com relação à continuidade da situação sanitária relativa à COVID-19. 

O curso será realizado de segunda à quinta-feira, no período noturno, em dois núcleos de atividades: EEB Jurema Cavallazzi, no bairro José Mendes; e UNISUL da Dib Mussi, no Centro, sendo resultado da parceria com o IVG. Uma nova chamada será realizada para acolher novos estudantes. As informações do processo seletivo e novas chamadas estarão disponíveis nas redes sociais do Projeto Integrar e Rede IVG. 

Informações dos cursos:

Horário:

Segunda à quinta, das 19 h às 22 h.

Nas sextas-feiras serão realizadas formações para professores e alunos, no mesmo horário, com local a ser divulgado.

Locais:

– EEB Jurema Cavallazzi, R. Prof. Aníbal Nunes Píres – José Mendes
– UNISUL Dib Mussi, R. Antônio Dib Mussi, 366 – Centro

Projeto Integrar, convida para formação: A Importância das Formações

O Projeto Integrar convida a todos para a formação a ser realizada nesta sexta-feira, dia 01/04/2022, às 19 horas na EEB Jurema Cavallazzi, localizada na R. Prof. Aníbal Nunes Píres – José Mendes. O tema da formação será A Importância das Formações, sendo conduzida pelos formadores:

  • Mara Goulart: Mulher Negra 54 anos. Estudante de Arquitetura e Urbanismo/UFSC, Coordenadora da GESTUS, Gestão Estudantil Universitária Integrar, Ex-estudante e membra da equipe de Formação Continuada do Projeto Integrar
  • Kleicer Cardoso: Professor da educação básica, e graduação da Universidade do Vale de Itajaí – Univali, pesquisador CNPq Ensino médio Colégio de aplicação da UNIVALI, educador popular projeto Integrar, membro da GESTUS, pesquisar PesqueGestus
  • Clara Cordeiro. Pernambucana. Formanda do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Santa Catarina. Iniciou sua trajetória acadêmica na Universidade Federal Rural de Pernambuco. Aventurou pelo mundo da gastronomia, realizou alguns estágios em laboratórios, está fazendo seu TCC na área da ecologia. É apaixonada pela educação.
  • Jeane Rinque educadora do projeto – Equipe filosofia – Ciências humanas

Dia 20 de Novembro: Dia Nacional da Consciência Negra

Uma mesma história pode ser contada sob diversas perspectivas.  No princípio básico de uma narrativa, o narrador previamente destaca os aspectos que julga mais importantes para que sua história expresse seus interesses e finalidades estabelecidos. Isso significa dizer que contar uma história só é possível se for realizada com um sentido coerente e determinado. Portanto, o ponto de partida para se contar uma história é sempre uma possibilidade de lê-la e, de forma abrangente, a narrativa da história do mundo (até hoje contada) tem sido elaborada a partir de concepções eurocêntricas.

Diante disso, é fundamental destacar que: 

  • o Brasil é um país que, de acordo com os dados do Censo Demográfico de 2010, tem a população de pardos e pretos em maior número do que as demais e mesmo assim há uma exclusão de uma grande parcela dessa população dos seus plenos direitos como cidadãos. É fundante a partir disso, apresentar possibilidades para que possamos transformar as narrativas únicas e eurocentradas, para assim narrar uma história que valorize e reconheça a cultura e a história afro-brasileira partindo do conhecimento crítico do continente Africano.
  • O olhar sobre o continente africano deve ir além dos estereótipos romantizados de uma diversidade natural e cultural generalista. É necessário um olhar crítico e honesto, que a África foi e é construída por grupos e comunidades socialmente organizadas e altamente sofisticadas, e não por tribos, que subjaz a construção tradicional utilizada para definir grupos humanos primitivos, não civilizados e desprovidos de conhecimento e técnica.

O racismo brasileiro, historicamente, surge como uma tentativa de invalidar e invisibilizar os povos africanos, suas culturas e conhecimentos. No Brasil, cuja invasão portuguesa serve como marco da exploração de nativos indígenas e, posteriormente, da escravização de pessoas africanas, o racismo estruturou (e ainda estrutura) a sociedade. Se na época da escravidão as pessoas negras não tinham direito legal nem sobre o próprio corpo; hoje, a exploração por meio do trabalho em postos de pior remuneração continua a propiciar piores condições de vida a essa mesma população. 

Todavia, a ideologia racista, no Brasil, se disfarçou de acolhimento por meio da alcunha de uma “democracia racial”, que viria a partir da miscigenação entre negros, brancos e indígenas. Esquece-se, apenas, que o objetivo da miscigenação era clarear a população preta. Esquece-se também que, à época da abolição, os escravizadores (pessoas brancas) foram ressarcidos pelo Estado brasileiro, pois se entendeu que a libertação das pessoas negras era um prejuízo a estes senhores. Em contrapartida, nada foi dado às pessoas negras recém libertas: nem terra, nem comida e nem remuneração pelos anos de sofrimento e escravização. A terra, nesse contexto, também serviu de indenização aos brancos escravizadores, que agora puderam ter elas como posse, já que não mais podiam manter as pessoas como tal. E, para as pessoas negras, foi criada em 1890 a Lei dos Vadios e Capoeiras, popularmente conhecida como a lei da vadiagem, que permitia que estas fossem presas caso estivessem perambulando nas ruas sem emprego, documentação, moradia fixa ou praticando capoeira, assim mais uma vez criminalizando a cultura negra. 

Sem dinheiro, sem terra e sem comida, a realidade das pessoas recém libertas foi de submissão aos antigos exploradores, que pagavam o que queriam (ou nem pagavam) pelo trabalho realizado, continuavam a possuir o poder sobre os recém-libertos, por meio do trabalho mal remunerado. Semelhanças com os dias atuais?

Até hoje, os reflexos desta realidade se estampam em nossa sociedade. Diante desta situação, a Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012, das ações afirmativas (cotas), e a Lei 10.639/03, promulgada em 09 de Janeiro de 2003, que incluiu a obrigatoriedade do ensino da história e cultura africana no currículo escolar, foram as primeiras políticas de reparação das injustiças operadas historicamente contra as pessoas negras no Brasil. Somente a partir de 2003, mais de 100 anos após a abolição da escravidão, é que pessoas negras começaram a ter maior possibilidade de acesso ao ensino superior. E ainda se fala em privilégio?!

Importante destacar que a subordinação da qualidade de vida ao grau de escolaridade foi mais um dos mecanismos de perpetuação da miséria à população negra, que foi proibida de frequentar a educação pública a partir da Lei número 1, de 14 de janeiro de 1837. Aqui se faz necessário ressaltar que as muitas legislações que buscaram garantir o extermínio e exclusão das populações afro-brasileiras não dão conta de todas as experiências destas, pois a resistência e a luta sempre se fizeram presentes. Todavia, é no mínimo notável que é devido às ausências de políticas públicas que se dá a perpetuação da miséria à população negra. Sem acesso a uma educação que possibilitasse os conhecimentos (estéreis) necessários para se passar nas provas de admissão ao ensino superior, não tinham acesso a este nível de ensino e permaneciam nos piores empregos. A própria exigência de um ensino superior para acesso a um emprego bem remunerado é um sistema de exclusão.

Mesmo a educação básica sempre foi um desafio à população negra, que historicamente não pôde se dar ao luxo de apenas estudar. Jovens negros, em geral, precisam conciliar trabalho e estudo. Também precisam dar conta de aprender coisas que pouco têm relevância para a sua constituição pessoal e coletiva. Problemas de currículo. Outras questões como obrigatoriedade de uniforme (não concedido pelo estado) e códigos de vestimenta também foram, no pós-abolição, ferramentas “sutis” de exclusão da população negra, sem recursos para tal adequação. 

Todo esse processo é fundamental e importante para que possamos conhecer a forma como esse país foi construído e que vem tentando impor uma identidade brasileira, sem considerar todas as diferenças que existem nesse solo. Podemos pensar também que os livros didáticos focam em Isabel e nas pessoas escravizadas, mas não tratam do primeiro Estado-Nação, o Quilombo de Palmares, formado em meados de 1630, e que ocupou a maior área territorial de resistência política à escravidão, sediando uma das mais efetivas lutas de resistência popular nas Américas. Quilombo dos Palmares e Zumbi tinham estratégias de guerra, o quilombo era um lugar de pessoas guerreiras, um lugar onde as pessoas viviam um outro modelo de sociedade que não aquele baseado em propriedade privada. O que centraliza um quilombo é a coletividade!

É nesse sentido que nós, do Projeto de Educação Comunitária Integrar, propomos que o dia 20 de novembro seja um espaço e um tempo de construção coletiva e inclusiva de uma outra sociedade, menos exploratória e mais justa racial e socialmente. Para isso, nos inspiramos no Quilombo dos Palmares e procuramos proporcionar essa construção coletiva em nossos níveis de formação: na facilitação do acesso e permanência nos espaços de educação superior, na formação de educadores populares e no retorno do conhecimento às comunidades, buscando uma verdadeira transformação social.