- Pré Universitário
O Pré-vestibular do Projeto Integrar, iniciado em 2011, foi desenvolvido na última década, na cidade de Florianópolis/SC. Esse Projeto está ligado ao movimento brasileiro das Políticas de Ações Afirmativas, o qual possibilita, por meio da política de reservas de vagas (cotas), a inserção de trabalhadoras/es estudantes de escolas públicas, negros/negras, transgêneros e indígenas nas universidades públicas e particulares (Prouni). Buscamos saber com as/os trabalhadoras/es estudantes quais conhecimentos estes trazem das suas trajetórias de vida e escolar e, a partir daí, ir construindo junto aos estudantes um processo de aprendizagem na perspectiva da Educação Popular, com os princípios da emancipação da classe trabalhadora. Para isso, desenvolvemos nossas aulas como as/os trabalhadoras/es estudantes em um processo dialógico e contextualizado com os conteúdos geográficos da realidade social destes. O resultado dessa experiência de Educação Popular é a inclusão de mais de 700 trabalhadores estudantes nos bancos das universidades, no entanto, o processo formativo do Projeto Integrar vai para além de uma formação para acessar a universidade: fez com que as/os trabalhadores estudantes despertassem para uma consciência crítica frente à realidade social, com alguns buscando na conscientização a prática com envolvimento nas lutas da classe trabalhadora, compondo coletivos do movimento estudantil, movimento negro, coletivo Gestus; com envolvimento na política partidária e/ou em Associações de Moradores; com projeto de desenvolvimento de base local, como as experiências de hortas urbanas, desenvolvidas nos territórios dos estudantes. No ano de 2022, o Pré-vestibular Integrar retoma as atividades presenciais em dois núcleos: EEB Jurema Cavalazzi (Saco dos Limões) e Unisul (Centro), este último em parceria com o Instituto Pe. Vilson Groh – IVG.
- GESTUS
A GESTUS vem desenvolvendo suas atividades com trabalhadoras e trabalhadores estudantes universitárias/os desde fevereiro de 2012, quando um grupo de estudantes e professores se reuniu para pensar estratégias de permanência das trabalhadoras e dos trabalhadores dentro das universidades públicas catarinenses (UFSC, UDESC, IFSC, USJ, ProUni). No início o grupo foi formado por 12 estudantes egressos do Projeto de Educação Comunitária Integrar, os quais haviam conquistado o acesso por meio das Políticas de Ações Afirmativas (PAA). Nesse primeiro momento, os educadores graduandos que atuavam no Projeto Integrar socializaram os direitos que os estudantes poderiam adquirir ao entrarem nas universidades por meio das políticas de permanência das instituições.
Deste passo inicial de socialização, a GESTUS avançou para garantir a permanência dos seus membros e membras para além do que a universidade disponibilizava, por zelo, fornecendo ajuda no meio-passe estudantil e na escrita de trabalhos acadêmicos. Hoje a GESTUS conta com educadores populares do Projeto Integrar, graduandas e graduandos egressos do Integrar, estudantes do curso Pré-vestibular Integrar e participantes que apoiam e contribuem para a organização desse movimento.
A GESTUS, como uma organização social, busca coletivamente despertar a consciência de cada indivíduo que nela se encontra. O processo da coletividade é importante como função social de espaço, de participação nas exigências de direitos. Nosso trabalho é fortalecer aquele estudante não organizado que se encontra na linha entre a inclusão e a exclusão universitária. Com a GESTUS, as e os estudantes conseguem ultrapassar a exclusão e ter acesso às possibilidades e oportunidades. Para isso, estamos empenhados em atividades de formação, informação, fortalecimento, planejamento e avaliação das nossas ações, pois quem age, faz – e quem faz deve planejar.
A Gestão Estudantil Universitária Integrar não corrobora com os interesses individuais, pois esses nunca estarão acima dos reais interesses da coletividade. Acreditamos que por esse motivo muitos ficaram no meio do caminho. A participação comunitária é uma estratégia que visa lidar com as múltiplas situações e a GESTUS prima pela continuidade do estudante que precisa passar a linha tênue da exclusão e continuar dentro das instituições de ensino superior.
A ação da GESTUS é direta, com auxílio financeiro, mão de obra (trabalho na comunidade), organização e consciência política, compartilhamento de responsabilidade e de informação. Por isso, cada membro que entende o que é estar nesse grupo compreende que carrega consigo o trabalho de multiplicador, portanto, tem ciência que a nossa viga é e sempre será a COLETIVIDADE. Na luta COLETIVA não existe lugar para o eu, aqui SOMOS NÓS!
- Formações
O objetivo dos ciclos de formação é atuar na formação de educadores populares, trabalhadores estudantes e comunidade dos territórios periféricos de Florianópolis sobre temas de relevância social tais como questão étnico-racial, igualdade social, gênero, educação popular e ambiental, inclusão social e acesso ao ensino superior, além de ampliar nossa articulação em rede com outras instituições e movimentos sociais como MNU, Mittos, Gestus, Educação Quilombola, Reciclação. As formações são realizadas no espaço da Escola de Educação Básica Jurema Cavallazzi e são abertas para a comunidade do entorno da escola, bem como para a participação do público em geral. Algumas palestras ocorrem em ambiente virtual e são disponibilizadas no canal do Projeto no Youtube. Os formadores consistem tanto de educadores do próprio Integrar e de membros da Gestão Universitária Estudantil Integrar (Gestus), como de professores atuantes em outros contextos como Educação Quilombola, Escolas estaduais e Universidades.
- Frente de alimentação:
Logo que se apresentou a pandemia de COVID-19 o Projeto Integrar organizou uma Frente de Alimentação para buscar contribuir minimamente com a alimentação dos estudantes cujos pedidos de auxílio chegavam até nós. Com o passar do tempo, e o agravamento da situação pandêmica, fomos percebendo a necessidade de uma rede em prol dessa demanda. Fizemos chamamentos para parceiros contribuírem, tanto com doações de alimentos não-perecíveis como de valores, para realizarmos compras de alimentos para montarmos cestas básicas. No ano de 2021, foram realizadas duas edições da Frente de Solidariedade, que visou atender às demandas por alimentos de comunidades de Florianópolis e do Quilombo Toca, em Paulo Lopes. A 4ª edição da Frente foi ampliada para que pudéssemos arrecadar, também, máscaras PFF2 para distribuir para a população das comunidades onde seriam feitas as entregas de alimentos. Em 2022 a pandemia abrandou, mas as dificuldades com a alimentação ainda estão presentes nas camadas mais vulneráveis da população. Enquanto movimento de parcerias, continuamos buscando auxílio para a arrecadação de alimentos para distribuição nas Comunidades da Grande Florianópolis, bem como para garantir a permanência de estudantes do próprio Projeto.
- Escutação
O projeto de Educação Comunitária Integrar tem como prática pedagógica um exercício que oportunizou a “criação” do Grupo EscutAÇÃO, que é a Caminhada dos Privilégios. Neste ano de 2018 ao finalizar o exercício nas escadarias do Rosário, no Centro da cidade, muitos estudantes, na sua grande maioria mulheres, relataram casos de violências. Por conta destes relatos, idealizamos um espaço onde as mulheres pudessem falar sobre as violências sofridas sem os olhares de desconfiança, um espaço onde cada uma encontre na outra a força de seguir sem medo.
No primeiro encontro das mulheres, no dia 12 de maio de 2018, considerando a importância da ampliação do debate acerca da Lei Maria da Penha, tendo em vista que muitas mulheres sofrem diversos tipos de violência em seus dia-a-dia, foi levantada a possibilidade de abrir o debate para todo o Projeto, entendendo assim que compreender este fenômeno deva fazer parte das práticas pedagógicas como estratégia para construir relações humanas pautadas na dignidade humana. Logo, as mulheres encaminharam desta reunião uma proposição de debate com o tema para todos os estudantes e professores, que aconteceu no dia 11 de julho de 2018, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, o qual contou com duas advogadas, Iris e Ariela, assim como o apoio do Coletivo da GESTUS, do Movimento Negro Unificado e do 8M.
O grupo de mulheres EscutAÇÃO continuou com suas reuniões mensais, no intuito de auxiliar uma mulher por vez, entendendo que as violências não somem das vidas das vítimas do dia para a noite, mas que elas podem ser suavizadas, até que virem cicatrizes sem grandes marcas. Atualmente, quando uma estudante e/ou pessoa da comunidade nos procura com alguma demanda relativa à saúde mental, fazemos o encaminhamento dessa pessoa a uma psicóloga que irá acolhê-la e identificar como será possível continuar o atendimento, caso seja necessário.